sábado, 18 de fevereiro de 2012

Politica e religião, estado e igreja?

Incialmente gostaria, de deixar claro que tenho ficado estarrecido com o comportamento da bancada evangelica junto ao senado! Ao ponto de revindicarem direitos se utilizando até de força bruta e um linguajar no mesmo nivel do mundo. Veja o video abaixo:





O que me chama mais atenção é que olhando alguns comentarios,  pessoas dizendo: "É hora de lutarmos por nossos direitos, mostrarmos nossa força". Afinal estamos lutando pelo nosso proprio orgulho ou pela causa do mestre? Estamos preocupados com o reino terreno ou o reino dos ceus (que Jesus tanto falou e se preocupou tanto)?

Tenho vergonha as vezes do que vejo acontecendo no meio do povo de Deus e como disse um pastor aqui na igreja estamos perdendo o rumo do céu, sem nem ao menos perceber! Será que Jesus brigaria com Herodes ou César por causa de alguma declaração politica?- Acho que não leitores!  Vejo na biblia um Jesus que soube muito bem a diferença entre a igreja e o estado e nunca misturou as coisas.

"Dai a Cesar o que é de Cesar e a Deus o que é de Deus"

Essa carta escrita abaixo foi enviada para um prefeito récem eleito de santa evangelica do Norte. O novo prefeito evangelico, pertecente a um partido que nunca governou aquele municipio. Da mesma forma, lá nunca houve um prefeito evangelico, situação muito dierente da de Santa evangélica do Sul, onde o prefeito, renomado cantor evangélico, está em seu  segundo mandato. Primeiro foi eleito pelo PFL, transferindo-se logo para PPB. Pouco depois oi para PTB e, em seguida, foi para o partidode Reedificação da Ordem nacional - Prona.

Segue abaixo a carta:

Meu caro amigo e irmão,


Escrevo estas linhas logo após o meu retorno de
Santa Evangélica do Norte, ainda sob o impacto
dos últimos acontecimentos. Foi um privilégio
estar presente na sua posse e no culto de ação de
graças que a seguiu. Quando nos conhecemos, seis
anos atrás, você era apenas um jovem militante
sindical. Nunca imaginei que um dia fosse chegar
a prefeito, e prefeito evangélico. Você, que era
ateu e achava que evangélico era a pior coisa que
já apareceu neste país! Levou tempo para superar
essa idéia, não é? Mas, quando mudou, mudou para
valer.

Sabe, quando você se converteu, eu, que estava
longe, aqui na capital, tinha um certo receio.
Temia que você abandonasse a política, renunciasse
ao mandato de vereador e mergulhasse somente
no trabalho da igreja. Estranho um pastor dizer
que temia isso, não é? Mas eu temia, sim, porque
você era claramente um vocacionado para a política,
mas andava com um grupo de crentes avessos a
tudo isso. Esse grupo foi bom para você em muitos
aspectos, mas dizia que a única coisa que melhorava
o mundo era Jesus no coração e que a política
era perda de tempo. Não sabia que Jesus, que deve
estar no coração de todos, é também o transformador
da cultura.

Na época, você não tinha argumentos contra os
deles, mas continuou a atividade política como
que por costume. Vivia uma vida cindida: na
igreja, era o supercrente; na política, era o
militante de sempre, com a nova identidade
evangélica acrescentada, mas não integrada.
Ficava uma coisa postiça. Era uma situação que
não podia durar para sempre, e eu temia que se
resolvesse com a sua saída da política.

Felizmente, meus temores não se concretizaram.

Você ficou na política (e na igreja!). E cresceu
nas duas. Agora que o evangelista da igreja virou
prefeito da cidade, meu medo é outro. Você vai
achar que nunca estou contente! Mas é assim: a
política é importante, mas é sempre perigosa,
porque mexe com o poder. Relacionar fé e política
é como andar na corda bamba; nunca se pode relaxar
e achar que já dominou a técnica.

Meu medo é outro porque nos últimos tempos você
anda com evangélicos que não têm nenhuma rejeição
à política. Pelo contrário, acham que são iluminados
por Deus para consertar a política. Acham
que os evangélicos têm o direito de governar,
pelo simples fato de serem evangélicos. Que as
promessas do Antigo Testamento a Israel se aplicam
aos evangélicos hoje. Estão empolgadíssimos
com a sua vitória porque acham que será o ungido
de Deus para transformar Santa Evangélica do Norte
em protótipo da Nova Jerusalém. Na cadeira de
prefeito, você será canal para as bênçãos divinas.
"Deus entregou esta cidade nas nossas mãos",
um deles orou no culto de sua posse.

Então, meu medo agora não é que você rejeite a
política, ou que continue sem integrar a política
com a sua fé, mas que você integre fé e política
sem tensões, de uma forma ingênua e triunfalista,
se esquecendo que todos nós somos falhos e
pecadores. Essa turma da teologia do domínio não
aprendeu bem a teologia, nem a história. Se os
seus primeiros amigos evangélicos demonizavam toda
e qualquer política, os seus novos amigos demonizam
a política dos outros e divinizam a sua própria.
Você precisa lembrar que a política é feita por
homens e mulheres imperfeitos e pecadores, mesmo
que sejam cristãos sinceros. É por isso que
precisamos da transparência democrática, de
pecadores vigiando outros pecadores, pois na
política ninguém é digno de receber uma carta branca
para governar.

Esse pessoal faria bem em conhecer um pouco a
experiência de dois países onde evangélicos com
essa teologia se tornaram presidentes. Na Zâmbia,
um evangélico chamado Frederick Chiluba ganhou a
eleição para presidente em 1991. Todo mundo ficou
contente, porque foi um dos primeiros países africanos
a restaurar a democracia. Chiluba, como
você, entrou na política por meio da militância
sindical. O regime lá era de partido único, e
Chiluba acabou na prisão. Lá, ele se converteu.

Quando a democracia começou a ser restaurada, ele
se tornou candidato da oposição a presidente.
Ganhou folgado. Mas as expectativas que o povo
tinha foram frustradas. Não demorou para Chiluba
começar a imitar o antigo regime. Só não instituiu
um partido único. Mas intimidou a oposição,
mudou a constituição para seu maior adversário
não poder concorrer na eleição seguinte, e agora
está querendo mudar a constituição de novo para
poder se reeleger pela segunda vez. Desrespeitou
os direitos humanos, não cumpriu muitas promessas
eleitorais, favoreceu o próprio grupo étnico
dele e mergulhou na corrupção.

Bem, isso acontece em muitos lugares do mundo,
mas Chiluba desmoralizou não apenas a si mesmo;
desmoralizou também o cristianismo. Quando assumiu
a presidência, ele fez três atos significativos.
Primeiro, chamou um grupo de evangélicos
para fazer uma cerimônia de purificação do palácio
do governo, botando para fora os espíritos
maus que ele associava ao governo anterior. Em
segundo lugar, fez uma cerimônia de unção, inspirada
na unção do rei Davi. E em terceiro lugar,
fez uma cerimônia declarando a Zâmbia uma "nação
cristã". Dizendo que "uma nação é abençoada quando
entra num pacto com Deus", ele se arrependeu
em nome do povo "de nossos maus caminhos de
idolatria, feitiçaria, ocultismo, imoralidade,
injustiça e corrupção":


Eu submeto o governo e a nação inteira ao
senhorio de Jesus Cristo. Ainda declaro que a
Zâmbia é uma nação cristã que procurará ser
governada pelos justos princípios da Palavra
de Deus. A retidão e a justiça devem prevalecer
em todos os níveis de governo, e aí
veremos a justiça de Deus exaltando a Zâmbia.

Parece que Chiluba fez essas coisas influenciado
por uma teologia na qual tais atos simbólicos
trazem benefícios quase automáticos. Ele disse
que a Zâmbia entrou num pacto com Deus e por isso
ele está abençoando a nação de tal forma que
"vamos deixar de ser um país devedor e nos tornar
um país credor".

A reação dos líderes eclesiásticos foi variada.
Alguns disseram que a declaração de uma "nação
cristã" foi um erro, porque não tinha havido um
debate democrático a respeito, criaria cidadãos
de segunda classe, incentivaria a hipocrisia e
traria descrédito sobre o cristianismo. A Zâmbia
se tornaria realmente uma nação cristã, disseram,
quando cristãos vivessem plenamente a sua
fé, e não por meio de uma declaração.

Outros líderes evangélicos, porém, ficaram empolgados.
Não precisava de debate democrático,
disseram, porque o que é bíblico não precisa ser
submetido a procedimentos democráticos! Achavam
que, já que era "nação cristã", pastores deveriam
ter posições no governo, o governo deveria dar
terrenos para as igrejas construírem e a construção
de mesquitas muçulmanas deveria ser proibida.
Alguns queriam um Ministério de Assuntos Evangélicos,
cadeiras cativas no parlamento e acesso
ilimitado ao palácio presidencial.

Mas, depois de um tempo, mesmo alguns dos adeptos
mais fervorosos do presidente começaram a
ficar desgostosos. Chiluba convidava pessoalmente
alguns evangelistas famosos a fazerem cruzadas
evangelísticas no país. O próprio Chiluba
falava nessas cruzadas também. Mas, quando ele
tentou convidá-los de novo, muitos líderes evangélicos
se recusaram a apoiar, dizendo que as
igrejas, e não o governo, é que deveriam fazer os
convites. Você vê que um governo "evangélico"
acaba dividindo os próprios evangélicos, porque
não há concordância sobre o que é tarefa do governo
e o que é tarefa das igrejas. E porque não
há dinheiro, favores e cargos suficientes para
todos!

O maior evangelista da Zâmbia era grande
defensor de Chiluba. Mas, depois de certo momento,
ele se desvinculou e virou um dos maiores
opositores. Fundou um partido e quer se candidatar
a presidente, dizendo que "não se deve entregar o
país a incrédulos". Diz que a Zâmbia não é uma
nação cristã porque os líderes não vivem segundo
as normas do cristianismo. Segundo ele, Chiluba
não deveria ter declarado o país uma "nação cristã"
até que todos os membros do governo fossem
nascidos de novo. O país não precisa de alguém
com muita competência e conhecimento para mudar a
economia; precisa apenas de alguém com moral e
integridade. Alega que Chiluba só mantém o apoio
de alguns líderes cristãos porque distribui
dinheiro do governo para eles e porque ameaça
retirar os passaportes diplomáticos que os principais
pastores têm, se criticarem o governo.

Percebe como as coisas ficam embaralhadas?

Aconteceram coisas parecidas na Guatemala, o país
com maior porcentagem de evangélicos na América
Latina. Lá, já houve dois presidentes evangélicos.
O primeiro era um general extremamente repressivo,
que enquanto presidente aparecia na
televisão todo domingo para pregar para o povo.

Hoje ele diz que, para ele, não havia diferença
entre ser chefe de estado e ser ancião de sua
igreja: "Como presidente, eu apenas ministrava a
uma congregação maior"! Ele via a nação como uma
megaigreja e o chefe de estado, como um mestre de
verdades espirituais. O segundo presidente evangélico
era líder leigo de uma grande igreja. Na
época de sua campanha para presidente, ele dirigia
também uma campanha de batalha espiritual
chamada "Jesus é Senhor da Guatemala". Era uma
campanha para livrar o país de uma suposta maldição
colocada sobre ele três mil anos antes por
causa de religiões pré-cristãs. Como era de uma
igreja de elite, os membros alugavam aviões para
expulsar os demônios da região que sobrevoavam.

Como presidente, ele foi um desastre: não aprofundou
a democracia, deu continuidade às velhas práticas
de compra de votos e foi corrupto. Aí, tentou
um golpe, fechando o congresso e suspendendo a
constituição. Não deu certo, e ele teve de fugir
para o exílio.

Cuidado, então, com esse triunfalismo político
evangélico. Cuidado com os evangélicos que se
acham capazes de governar! Temos de entender a
diferença entre o Antigo e o Novo Testamentos.

Nenhum país hoje está na posição de Israel no
Antigo Testamento. Nenhum grupo pode reclamar um
direito divino de governar. Esse pessoal que diz
que os evangélicos devem governar nunca promove
debates dentro da comunidade evangélica. Como
estabelecer um projeto comum? Quais evangélicos
estarão no poder? Isso eles nunca discutem.

A nossa política pode ser confessional (inspirada
pela nossa fé), mas não devemos querer um
Estado confessional. Não é bom que o Estado se
torne juiz de doutrinas e práticas religiosas.
Você também, como prefeito, terá de entender a
diferença entre ser um legislador evangélico e um
governante evangélico. São papéis diferentes, com
implicações diferentes para sua responsabilidade
cristã. Como bom governante cristão, você precisará
ser neutro entre todas as religiões (inclusive
aquelas de que não gostamos), e entre
religiosos e ateus. Você precisará perceber,
também, a fronteira entre as tarefas de um
governante e as de um cidadão evangélico comum.

 
Chiluba, promovendo cruzadas enquanto presidente,
se complicou nesse ponto.
Mais uma coisa para terminar: você se lembra
daqueles pastores que o atacaram durante a campanha,
dizendo que você era candidato do diabo?
Pois bem, logo você vai perceber que esses mesmos
pastores estão querendo se aproximar de você,
tratando-o com (aparentemente) o maior respeito.

Sabe por quê? Porque agora você não é mais candidato,
mas "autoridade instituída por Deus". Vão
cortejá-lo porque têm uma teologia que quase
diviniza o poder; e porque querem estar próximos
do prefeito, seja quem for, para não perder vantagens.

Mas fique sabendo que, do mesmo jeito que
o abraçam agora, podem esfaqueá-lo pelas costas
depois. Estou falando, é claro, dos piores entre
eles. É possível que alguns outros passem realmente
por uma mudança de visão, principalmente se
você fizer um bom governo. O importante é você
tratar todo mundo igual, mas não acreditar em
tudo que ouve. Às vezes se brinca no meio evangélico
que a última coisa que se converte é o bolso.

Mas não é; é o fascínio pelo poder.
Você agora é prefeito, é "autoridade". Mas
para mim você continua a ser uma pessoa de pouco
tempo na fé, que precisa de discipulado. Tomara
que quando deixar a prefeitura você esteja mais
maduro na fé do que estava quando entrou. E que
Santa Evangélica do Norte seja um pouco melhor
também!

Um grande abraço fraterno





 

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Ricardo Gondim deixa o movimento evangélico




“Tempo de Partir”, do pastor Ricardo Gondim:
Não perdi o juízo. Minha espiritualidade não foi a pique. Minhas muitas tarefas não me esgotaram. Entretanto, não cessam os rótulos e os diagnósticos sobre minha saúde espiritual. Escrevo, mas parece que as minhas palavras chegam a ouvidos displicentes. Para alguns pareço vago, para outros, fragmentado e inconsistente nas colocações (talvez seja mesmo). Várias pessoas avisam que intercedem a Deus para que Ele me acuda.

Minha peregrinação cristã está, há muito, marcada por rompimentos. O primeiro, rachei com a Igreja Católica, onde nasci, fui batizado e fiz a Primeira Comunhão. Em premonitórias inquietações não aceitava dogmas. Pedi explicações a um padre sobre certas práticas que não faziam muito sentido para mim. O sacerdote simplesmente deu as costas, mas antes advertiu: “Meu filho, afaste-se dos protestantes, eles são um problema!”.

Depois de ler a Bíblia, decidi sair do catolicismo; um escândalo para uma família que se orgulhava de ter padres e freiras na árvore genealógica – e nenhum “crente”. Aportei na Igreja Presbiteriana Central de Fortaleza. Meus únicos amigos crentes vinham dessa denominação. Enfronhei em muitas atividades. Membro ativo, freqüentei a escola dominical, trabalhei com outros jovens na impressão de boletins, organizei retiros e acampamentos. No cúmulo da vontade de servir, tentei até cantar no coral – um desastre. Liderei a União de Mocidade. Enfim, fiz tudo o que pude dentro daquela estrutura. Fui calvinista. Acreditei por muito tempo que Deus, ao criar todas as coisas, ordenou que o universo inteiro se movesse de acordo com sua presciência e soberania. Aceitei tacitamente que certas pessoas vão para o céu e para o inferno devido a uma eleição. Essa doutrina fazia sentido para mim até porque eu me via um dos eleitos. Eu estava numa situação bem confortável. E podia descansar: a salvação da minha alma estava desde sempre garantida. Mesmo que caísse na gandaia, no último dia, de um jeito ou de outro, a graça me resgataria. O propósito de Deus para minha vida nunca seria frustrado, me garantiram.

Em determinada noite, fui a um culto pentecostal. O Espírito Santo me visitou com ternura. Em êxtase, imerso no amor de Deus, falei em línguas estranhas – um escândalo na comunidade reverente e bem comportada. Sob o impacto daquele batismo, fui intimado a comparecer à versão moderna da Inquisição. Numa minúscula sala, pastores e presbíteros exigiram que eu negasse a experiência sob pena de ser estigmatizado como reles pentecostal. Ameaçaram. Eu sofreria o primeiro processo de expulsão, excomunhão, daquela igreja desde que se estabelecera no século XIX. Ainda adolescente e debaixo do escrutínio opressivo de uma gerontocracia inclemente, ouvi o xeque mate: “Peça para sair, evite o trauma de um julgamento sumário. Poupe-nos de sermos transformados em carrascos”. Às duas da madrugada, capitulei. Solicitei, por carta, a saída. A partir daquele momento, deixei de ser presbiteriano.

De novo estava no exílio. Meu melhor amigo, presidente da Aliança Bíblica Universitária, pertencia a Assembleia de Deus e para lá fui. Era mais um êxodo em busca de abrigo. Eu só queria uma comunidade onde pudesse viver a fé. Cedo vi que a Assembleia de Deus estava engessada. Sobravam legalismo, politicagem interna e ânsia de poder temporal. Não custou e notei a instituição acorrentada por uma tradição farisaica. Pior, iludia-se com sua grandeza numérica. Já pastor da Betesda eu me tornava, de novo, um estorvo. Os processos que mantinham o povo preso ao espírito de boiada me agrediam. Enquanto denunciava o anacronismo assembleiano eu me indispunha. A estrutura amordaçava e eu me via inibido em meu senso crítico. A geração de pastores que ascendia se contentava em ficar quieta. Balançava a cabeça em aprovação aos desmandos dos encastelados no poder. Mais uma vez, eu me encontrava numa sinuca. De novo, precisei romper. Eu estava de saída da maior denominação pentecostal do Brasil. Mas, pela primeira vez, eu me sentia protegido. A querida Betesda me acompanhou.

Agora sinto necessidade de distanciar-me do Movimento Evangélico. Não tenho medo. Depois de tantas rupturas mantenho o coração sóbrio. As decepções não foram suficientes para azedar a minha alma, sequer fortes para roubar a minha fé. “Seja Deus verdadeiro e todo homem mentiroso”.

Estou crescentemente empolgado com as verdades bíblicas que revelam Jesus de Nazaré. Aumenta a minha vontade de caminhar ao lado de gente humana que ama o próximo. Sinto-me estranhamente atraído à beleza da vida. Não cesso de procurar mentores. Estou aberto a amigos que me inspirem a alma.

Então por que uma ruptura radical? Meus movimentos visam preservar a minha alma da intolerância. Saio para não tornar-me um casmurro rabugento. Não desejo acabar um crítico que nunca celebra e jamais se encaixa onde a vida pulsa. Não me considero dono da verdade. Não carrego a palmatória do mundo. Cresce em mim a consciência de que sou imperfeito. Luto para não permitir que covardia me afaste do confronto de meus paradoxos. Não nego: sou incapaz de viver tudo o que prego – a mensagem que anuncio é muito mais excelente do que eu. A igreja que pastoreio tem enormes dificuldades. Contudo, insisto com a necessidade de rescindir com o que comumente se conhece como Movimento Evangélico.

1. Vejo-me incapaz de tolerar que o Evangelho se transforme em negócio e o nome de Deus vire marca que vende bem. Não posso aceitar, passivamente, que tentem converter os cristãos em consumidores e a igreja, em balcão de serviços religiosos. Entendo que o movimento evangélico nacional se apequenou. Não consegue vencer a tentação de lucrar como empresa. Recuso-me a continuar esmurrando as pontas de facas de uma religião que se molda à Babilônia.

2. Não consigo admirar a enorme maioria dos formadores de opinião do movimento evangélico (principalmente os que se valem da mídia). Conheço muitos de fora dos palcos e dos púlpitos. Sei de histórias horrorosas, presenciei fatos inenarráveis e testemunhei decisões execráveis. Sei que muitas eleições nas altas cupulas denominacionais acontecem com casuísmos eleitoreiros imorais. Estive na eleição para presidente de uma enorme denominação. Vi dois zeladores do Centro de Convenções aliciados com dinheiro. Os dois receberam crachá e votaram como pastores. Já ajudei em “cruzadas” evangelísticas cujo objetivo se restringiu filmar a multidão, exibir nos Estados Unidos e levantar dinheiro. O fim último era sustentar o evangelista no luxo nababesco. Sou testemunha ocular de pastores que depois de orar por gente sofrida e miserável debocharam delas, às gargalhadas. Horrorizei-me com o programa da CNN em que algumas das maiores lideranças do mundo evangélico americano apoiaram a guerra do Iraque. Naquela noite revirei na cama sem dormir. Parecia impossível acreditar que homens de Deus colocam a mão no fogo por uma política beligerante e mentirosa de bombardear outro país. Como um movimento, que se pretende portador das Boas Novas, sustenta uma guerra satânica, apoiada pela indústria do petróleo.

3. No momento em que o sal perde o sabor para nada presta senão para ser jogado fora e pisado pelos homens. Não desejo me sentir parte de uma igreja que perde credibilidade por priorizar a mensagem que promete prosperidade. Como conviver com uma religião que busca especializar-se na mecânica das “preces poderosas”? O que dizer de homens e mulheres que ensinam a virtude como degrau para o sucesso? Não suporto conviver em ambientes onde se geram culpa e paranoia como pretexto de ajudar as pessoas a reconhecerem a necessidade de Deus.

4. Não consigo identificar-me com o determinismo teológico que impera na maioria das igrejas evangélicas. Há um fatalismo disfarçado que enxerga cada mínimo detalhe da existência como parte da providência. Repenso as categorias teológicas que me serviam de óculos para a leitura da Bíblia. Entendo que essa mudança de lente se tornou ameaçadora. Eu, porém, preciso de lateralidade. Quero dialogar com as ciências sociais. Preciso variar meus ângulos de percepção. Não gosto de cabrestos. Patrulhamento e cenho franzido me irritam . Senti na carne a intolerância e como o ódio está atrelado ao conformismo teológico. Preciso me manter aberto à companhia de gente que molda a vida, consciente ou inconsciente, pelos valores do Reino de Deus sem medo de pensar, sonhar, sentir, rir e chorar. Desejo desfrutar (curtir) uma espiritualidade sem a canga pesada do legalismo, sem o hermético fundamentalismo, sem os dogmas estreitos dos saudosistas e sem a estupidez dos que não dialogam sem rotular.

Não, não abandonarei a vocação de pastor. Não negligenciarei a comunidade onde sirvo. Quero apenas experimentar a liberdade prometida nos Evangelhos. Posso ainda não saber para onde vou, mas estou certo dos caminhos por onde não devo seguir.

Soli Deo Gloria

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Os donos da agenda de Deus



Deus agora é refém das agendas feitas por seus empresários. Perdeu Sua soberania! Sabe aquela história de que o vento sopra onde quer, e ninguém sabe de onde vem, nem pra onde vai? Pois é... já era! Agora o vento sopra onde e quando os empresários de Deus determinarem.

Tem quem ache que pode agendar uma audiência com o Criador. Não há mais lugar para surpresas. Agora é tudo com hora marcada e endereço certo. E ai de Deus se não corresponder às expectativas! Corre o risco de perder o trono.

Algumas igrejas oferecem um tipo de cardápio aos seus fiéis, onde há um dia certo para Deus curar, outro para Deus prosperar, e ainda outro para abençoar as famílias. Se o doente vier no dia errado, volta pra casa com sua enfermidade.

Tem até quem agende um dia especial para um encontro com Deus. E se a pessoa morrer antes do tal encontro? Coitada! Vai direto pro beleléu, sem direito a escala.

Perdeu-se completamente a reverência ao sagrado.

Cabe aqui a advertência do sábio Salomão: “Não presumes do dia de amanhã, pois não sabes o que produzirá o dia” (Pv.27:1).

Quanta presunção humana achar que pode impor limites ao agir de Deus!

Tiago ecoa a mesma admoestação:

“E agora, vós que dizeis: Hoje ou amanhã iremos a tal cidade, lá passaremos um ano, negociaremos e ganharemos. Ora, não sabeis o que acontecerá amanhã. O que é a vossa vida? É um vapor que aparece por um pouco, e logo se desvanece. Em lugar disso, devíeis dizer: Se o Senhor quiser, viveremos e faremos isto ou aquilo. Vós vos jactais das vossas presunções. Ora, toda jactância tal como esta é maligna.” Tiago 4:13-16

Repare bem: Se não somos donos nem de nossa própria agenda, quanto mais da agenda de Deus. Ele é quem determina os tempos e as horas (Dn.2:21).

Em vez de anunciar que em tal dia Deus vai fazer isso ou aquilo, deveriam anunciar que em tal dia estarão orando em favor de algo, na expectativa de serem atendidos, se for esta a vontade soberana de Deus. Não se trata de falta de fé, mas de total confiança em Deus.

Ele não Se deixa manipular por ninguém!

Lucas registra um episódio interessante que exemplifica isso:

“Naquele mesmo dia chegaram uns fariseus, dizendo-lhe: Sai, e retira-te daqui. Herodes quer matar-te. Respondeu-lhes Jesus: Ide dizer àquela raposa: Eu expulso demônios, e efetuo cura, hoje e amanhã, e no terceiro dia terminarei. Importa, porém, caminhar hoje, amanhã, e no dia seguinte, para que não suceda que morra um profeta fora de Jerusalém.” Lucas 13:31-33

Que petulância dos fariseus! Quem eram eles para tentar apressar Jesus? Pois Ele tem Sua própria agenda a cumprir, e não está disposto a mudar Seu cronograma. Não há ameaças, ou chantagem emocional que possam dissuadi-Lo de seguir a rota programada pelo Pai.

Portanto, deixemos de lado a arrogância religiosa, e submetamo-nos à agenda de Deus, deixando-O à vontade para agir quando, onde e através de quem Ele quiser.
 
Por Hermes C. Fernandes
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