segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Santificaram a Rebelião


Se você já passou por divisão na igreja, está bastante familiarizado com o terrível turbilhão de emoções e o inconsolável sofrimento que acompanham essa descida ao inferno. Se você não tem familiaridade com a experiência, um grande choque o aguarda: grupos de cristãos outrora bondosos e unidos se separarão em facções para se oporem uns aos outros. De repente manifestarão calúnia, ira, engano, medo, amargura, ódio, maledicência, falta de perdão, contenda, rebelião e orgulho.

Qualquer uma dessas atitudes, isolada em um único indivíduo, seria reconhecida e exposta como pecado. No entanto, quando ocorrem em massa em uma divisão na igreja, são consideradas de certa forma justas. A ira é redefinida como “lutar por um princípio”. A calúnia e a maledicência agora se alistam como aliadas “na busca da verdade”.

O epicentro da divisão pode ser localizado em uma única igreja, mas as ondas de choque são sentidas ao longo de uma grande área do Corpo de Cristo e em toda a comunidade. As notícias do conflito são comunicadas em sussurros como quando ouvimos falar que um membro da família tem câncer. E se trata mesmo de um câncer – pois divisão é um sistema de vida maligno, um falso crescimento autorizado pela ira, pelo orgulho e pela ambição, em vez da mansidão e paciência de Cristo. É uma guerra na qual o diabo é o único que realmente vence.

São muitos os motivos para separações na igreja. As divisões podem originar-se de confusões relacionadas aos líderes da igreja. A quem Deus realmente concedeu autoridade final em qualquer congregação? Às vezes, a raiz do conflito é simplesmente a ambição mal direcionada de um ou mais líderes associados. É claro que sempre existe a questão da batalha espiritual. Com freqüência, assim que a igreja começa a crescer em números de membros ou a desenvolver-se espiritualmente, surgem conflitos manipulados por demônios.
Talvez as separações envolvam alguma combinação de todos os citados. Entretanto, independente da fonte de cada divisão, Jesus avisou que enquanto nossa casa estiver dividida, ela “não subsistirá” (Mt 12.25).

A Primeira Divisão

Podemos achar que o Senhor não está familiarizado com a dor de uma divisão na igreja. Ele está. É provável que você se lembre de que, antes da criação do homem, o céu passou por um momento de grande rebelião, uma “divisão” se preferir.

Naquele tempo, Satanás era conhecido como Lúcifer ou Hillel Ben Shahar em hebraico. Hillel vem de Hallel, que significa louvar, adorar, servir. Ben Shahar significava filho do amanhecer. A implicação é que Lúcifer era o líder do louvor no amanhecer da criação. Dotado dos dons de liderança e criatividade musical, sua posição não lhe era suficiente. Motivado pela inveja e ambição, Lúcifer fez com que um terço dos anjos se rebelasse contra a autoridade de Deus.

O terrível crime de Lúcifer não foi apenas ter-se rebelado contra Deus – por mais que tenha sido maligno. O pior foi ter roubado um terço dos anjos por meio da calúnia contra Deus e do engano. Considere o poder de sedução e engano deste mestre da divisão: ele conseguiu convencer um grupo de anjos, que estavam contemplando a glória resplandecente de Deus, de que eles conseguiriam vencer uma guerra contra seu Criador! Em temor e admiração, eles haviam visto galáxias surgirem a partir da boca de Deus. Todavia, de alguma forma, passaram a acreditar que, sob a liderança de Lúcifer, poderiam derrotar o Todo-Poderoso.

Ainda que os anjos rebelados soubessem que Deus era completamente onisciente de cada pensamento, acreditaram que poderiam pensar antes dele. Usando discrição, calúnia e sedução, Lúcifer engendrou descontentamento entre os anjos a fim de que todos os prazeres do céu não conseguissem satisfazê-los. Então, os afastou do esplendor inimaginável da presença de Deus, convencendo-os de que a impenetrável escuridão externa lhes seria mais satisfatória. Sim, veja o poder de engano usado por nosso antigo inimigo e imagine se ele não conseguiria separar bons amigos em uma divisão na igreja aqui na Terra.

Não sabemos quanto tempo durou a rebelião no céu, e também não está escrito qual foi o engano que Lúcifer propagou. A Bíblia apenas concede fugazes reflexões sobre aquela horrível e cataclísmica divisão. Será que Deus não foi afetado pelo conflito? Será que o Pai Celestial estava perfeitamente distante da dor da separação ou sofreu algum desgosto quando os anjos a quem havia concedido o dom da vida se rebelaram contra ele? Lembre-se de que Deus viu a grande mentira espalhar-se, infectar cada anjo até que um terço uniu-se à insurreição. Será que a divisão foi a primeira grande dor no coração de Deus?

Amado, pense com temor e tremor: antes dessa antiga separação, o inferno ainda não existia pelo que sabemos. O inferno tornou-se realidade como conseqüência da divisão, criado para aqueles que acreditaram na mentira do diabo (Mt 25.41).

A Guerra Contra o Céu Continua – Dentro da Igreja

Contudo, embora Lúcifer e suas hostes tenham sido banidos para os “abismos de trevas” (2 Pe 2.4), a guerra com o céu não terminou. Começando com Adão e Eva, o diabo continuou sua guerra contra Deus. Na verdade, o conflito que os cristãos experimentam hoje, de uma forma real, é a continuação desse grande e primordial conflito. Cada vez que ele divide mais uma igreja, parte de seu objetivo é atingir novamente o coração de Deus.

Uma verdade que nos ajudará a derrotar o inimigo é saber que, quando a igreja está sofrendo a dor da divisão, o que parecem ser as questões principais geralmente nem vêm ao caso. De fato, quando Lúcifer caiu, do ponto de vista celestial, ele não manteve mais o nome Lúcifer, mas passou a chamar-se “Satanás” ou “diabo”. O significado destes dois nomes nos dá uma idéia da natureza daquilo contra o que lutamos durante uma separação.

Satanás significa aquele que se opõe ou adversário. Que poder fortalece a atitude de confronto daqueles que se opõem à autoridade estabelecida na igreja? O poder que reforça a incapacidade de reconciliar-se é satânico e pode enfiar-se entre aqueles que discordam e os que estão na liderança. Satanás ferozmente se oporá à idéia de cura e reconciliação.

O nome diabo significa caluniador. Caluniar significa mais do que “falar mal de outra pessoa”. Literalmente falando, significa aquele que coloca alguma coisa ou a si mesmo entre dois a fim de dividi-los.

O objetivo de Satanás não é apenas falar mal, mas colocar algo entre as pessoas a fim de dividi-las. A obra de dividir destrói amizades, casamentos e igrejas. Ele aumentará o que parece errado em alguém e distorcerá as reações da outra pessoa. Ele frustrará nossas tentativas de entrar em acordo e dividirá repetidamente os cristãos com novos assuntos.

Uma das marcas de uma igreja sob ataques demoníacos é que as críticas do grupo dividido nunca se esgotam: ameniza-se uma questão, e surgem mais três. Quando Satanás manipula o grupo dissidente dentro da igreja, as questões que o inflamam são apenas uma cortina de fumaça para dividir e ganhar a igreja.

Parecem bastante verdadeiras, mas, quando uma questão se torna mais central para nosso relacionamento do que a humildade, o amor e a fé, esta questão é de fato uma cunha enviada para dividir.

A Causa Mais Sutil das Divisões

Existem, talvez, muitas fontes de conflitos que levam a divisões e separações, mas nenhuma delas é mais sutil ou poderosa do que a ambição religiosa – sobretudo, quando um líder subordinado começa a imaginar que Deus o chamou para ocupar o lugar do pastor principal ou do líder do departamento.

Por meio do profeta Isaías, o Espírito Santo nos mostra o motivo da rebelião de Lúcifer contra a autoridade divina: a ambição egoísta. Manifestando-se sucintamente pela voz e ambição do rei da Babilônia (Is 14.12-14), cinco vezes o foco do orgulho de Lúcifer expressa a cobiça irrestrita pela preeminência e posição até afirmar claramente sua busca de suplantar Deus como ser supremo adorado no planeta Terra.

Lúcifer não apenas deseja ser semelhante a Deus, mas também procura “subir ao céu” e estabelecer seu trono acima das estrelas de Deus, que é o local onde o Altíssimo se assenta! O Apocalipse de João confirma este objetivo várias vezes ao longo do livro: Satanás busca ser adorado. Ele busca o lugar de Deus no céu e o lugar de Deus em nós.

Isso é vital para o seguinte discernimento: Satanás é basicamente um espírito religioso. Ele não quer destruir o mundo, mas dominá-lo. Ele colocou um terço dos anjos contra a autoridade de Deus no céu e manipula a ambição religiosa dos líderes subordinados a fim de usurpar a autoridade delegada por Deus à sua Igreja na Terra.

É claro que o envolvimento de Lúcifer na religião humana é comum e multifacetado, mas nada que ele faz é mais sutil ou diabólico do que enganar os bons cristãos a se voltarem contra os líderes de sua própria igreja.

Sempre que procuramos ocupar o lugar de alguém que Deus colocou na posição de autoridade, estamos assumindo a imagem de Lúcifer e não a de Cristo.

Por: Francis Frangipane
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