terça-feira, 12 de outubro de 2010

Examinando as escrituras





E tudo quanto pedirdes em meu nome, isso farei, a fim de que o Pai seja glorificado no Filho. Se me pedirdes alguma coisa em meu nome, eu o farei.” (João 14.13,14)

Uma jovem, se referindo a esse texto, me procurou dizendo: “... e quando pedimos e não acontece? Será que está nos faltando fé? Será que Deus não quer que seja assim? Mas, se Ele não quer, Ele não diria "Tudo". Poderia dizer apenas “aquilo que Ele aprovasse”, ou será que apenas não sabemos esperar?”

Essa jovem fez as perguntas certas sobre o texto, partindo inicialmente da interpretação que diz que toda oração é respondida. Na segunda parte da sua dúvida, ela muda de hipótese e passa a considerar que há uma outra maneira de entender João 14.13, especialmente em relação a palavra “tudo” do versículo.

De fato, a primeira impressão que temos ao lermos tais palavras de Jesus é que a oração feita no nome de dEle nos dá o direito de recebermos qualquer coisa que pedirmos, uma idéia muito comum na igreja evangélica de hoje. Para chegarmos nessa conclusão, precisamos ignorar totalmente outros textos da Bíblia ou selecionarmos alguns deles. Precisamos ter também uma atitude contrária a dessa jovem e literalmente “engolir” o que os teólogos das orações mágicas e instantâneas nos ensinam.

Minha intenção não é expor o texto do capítulo 14 do evangelho de João verso a verso, mas dar diretrizes para o entendimento dos versículos “problemas”. 

Em primeiro lugar
, conforme a oração do Pai Nosso, toda oração do cristão deve estar debaixo da vontade de Deus. Isso está absolutamente implícito em “Se me pedirdes alguma coisa em meu nome, eu o farei”, ou seja, o que Jesus havia ensinado sobre oração antes de pronunciar tais palavras em Jo 14 continuava (e ainda continua) valendo. Seria muita incoerência do Filho de Deus dizer algo em Jo14.13,14 do tipo: “Peça-me o que você bem quiser que isso eu vou fazer sem qualquer problema. O que você quer é o querer do Pai”. A vontade de Deus é revelada nas Escrituras. Não há mistério quanto ao conhecê-la. Basta aos cristãos lerem a Bíblia e se orientarem somente pelo o que ela diz. Creio que, além de Jesus, o apóstolo João também não era contraditório e assim nos ensina em 1Jo 5.14,15: “E esta é a confiança que temos para com ele: que, se pedirmos alguma coisa segundo a sua vontade, ele nos ouve. E, se sabemos que ele nos ouve quanto ao que lhe pedimos, estamos certos de que obtemos os pedidos que lhe temos feito.” É o mesmo autor do texto “problema”!

Em segundo lugar, a finalidade da petição é para que “o Pai seja glorificado no Filho”. Daí eu pergunto: o que você pede em suas orações é para a glória de Deus? O que é “para a glória de Deus”? Uma das passagens que me veio a mente para tentar ilustrar melhor o que significa o Pai ser glorificado na oração é Jo 11.41-43, que diz: “Tiraram, então, a pedra. E Jesus, levantando os olhos para o céu, disse: Pai, graças te dou porque me ouviste. Aliás, eu sabia que sempre me ouves, mas assim falei por causa da multidão presente, para que creiam que tu me enviaste. E, tendo dito isto, clamou em alta voz: Lázaro, vem para fora!”. A oração de Jesus tinha sido ouvida pelo Pai e o propósito da oração do Senhor é bem claro: “para que creiam que tu me enviaste.” Jesus somente ressuscitou Lázaro por esse motivo e o milagre certamente ocorreu porque glorificava o Pai. Num sentido mais amplo, esse é precisamente o propósito do apóstolo ao escrever o seu evangelho.“Estes {sinais}, porém, foram registrados para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome” Jo 20.31 // “Veio para o que era seu, e os seus não o receberam. Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que crêem no seu nome;” Jo 1.11,12. João 17, outra oração do Senhor, particularmente os versículos 8,21,23,25, atesta para esse mesmo propósito. Portanto, creio que todas as nossas orações devem conter esse objetivo. Tudo o que pedirmos deve glorificar a Deus e foi isso que os apóstolos e os discípulos fizeram (em oração, na comunhão, no partir do pão...) depois que Jesus morreu, ressuscitou e subiu aos céus. E assim sabemos pelo livro de Atos, que desdobrou aquilo que Jesus havia dito em Jo 14.12: “Em verdade, em verdade vos digo que aquele que crê em mim fará também as obras que eu faço e outras maiores fará, porque eu vou para junto do Pai.” Imediatamente depois, Jesus, então diz “E tudo quanto pedirdes em meu nome, isso farei, a fim de que o Pai seja glorificado no Filho. Se me pedirdes alguma coisa em meu nome, eu o farei.”

Por último, considero extremamente difícil os evangélicos de hoje lerem Jo 14.14,15 com essas considerações, que precisam ser feitas para o correto entendimento do texto. Assim afirmo porque os pastores de hoje (me refiro a maioria) ensinam somente o versículo e com uma teologia que se fundamenta na avareza e na necessidade de exigirmos de Deus sempre o de bom e o do melhor que essa vida material nos oferece. Não se pensa “no todo”, mas “no versículo”. E não se pensa “em Reino”, mas se pensa “em si”.

Autor: Danilo Neves de Almeida
Fonte: [ UMPCGYN ]
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"Se amássemos mais a glória de Deus, se nos importássemos mais com o bem eterno das almas dos homens, não nos recusaríamos a nos engajar em uma controvérsia necessária, quando a verdade do evangelho estivesse em jogo. A ordenança apostólica é clara. Devemos “manter a verdade em amor", não sendo nem desleais no nosso amor, nem sem amor na nossa verdade, mas mantendo os dois em equilíbrio (...) A atividade apropriada aos cristãos professos que discordam uns dos outros não é a de ignorar, nem de esconder, nem mesmo minimizar suas diferenças, mas discuti-las." John Stott

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