Dizer que os nomes na sociedade atual não possuem muito valor, não seria muita novidade! Observem: - No banco, somos correntistas, no processo eleitoral somos eleitores, na igreja, somos irmãos, na rua somos você, na sala de aula somos alunos ... E a carência é tão grande por ser chamado pelo nome, que as vezes chamamos alguém pelo nome e a pessoa se surpreende dizendo: - Não sabia que você conhecia meu nome!
O problema principal disso tudo é que estamos sendo reduzidos a números, quando falamos na igreja irmãos; não que seja uma expressão errada, mas irmão pode ser qualquer um dentro da igreja, surge uma leve impressão que Ignoramos a identidade das pessoas e reduzimos todas a números da maneira mais fria possível.
Quase todos sabem que tudo o que possuímos nessa vida é ilusório. Aquilo que aparentemente é nosso ficará aqui, mesmo depois que partirmos, pois dessa vida nada se leva. Porém, algo continuará sendo meu por longos anos em minha lápide - o meu nome. Dentre as muitas qualidades, traços e trejeitos que nos diferem, o nome é com certeza algo especial. Não me orgulho da semelhança dele aos atores de novela mexicana, mas sem dúvida me sinto querido quando me tratam por ele.
Em todos os lugares públicos ou mesmo privados tentam me adular chamando-me de "senhor", "vossa senhoria", "caro cliente"... chamam-me até de "pastor". Mas nenhum desses pronomes é mais pessoal ou amigável do que meu próprio nome. "Robson", "Ro" ou "Robinhoooo" são abreviações que me trazem pra perto, me fazem sentir-se em casa. No mínimo, despertam minha atenção.
Alguns dias atrás aqui no hospital onde trabalho, foi chamado no som um numero! No qual diziam: - 3835 favor comunicar-se com o setor de RH. Quando ouvi isso no som fiquei surpreso, pois o funcionário estava sendo chamado pelo numero de seu registro, poderia ser qualquer um. Depois de alguns minutos repetiram no som novamente: - 3835 favor comunicar-se urgente. Ouvi no som pela segunda vez, e fiquei imaginando um armário cheio de pastas numeradas de funcionários que já foram embora e outros que ainda trabalhavam na empresa sendo representados por um número apenas. Será que um número, pode contar a historia de vida do funcionário? falar de onde ele veio? quem ele foi? como trabalhou? qual era a sua motivação? .... Será?
O pior de tudo, foi que ao levantar meu crachá percebi que o numero 3835 era eu... Era meu número! Não sei explicar direito, mas naquele momento me senti na prisão como o preso que é representado por um número, no qual a sua historia ou seu nome pouco importa, ou um laboratório, pra falar a verdade não sei... Mas tenho certeza de uma coisa um número nunca poderá descrever quem de fato é uma pessoa, isso lhe rouba sua identidade.
É triste quando não temos nome, não somos indivíduos. Sou mais um trabalhador, ou o tal 3835. Dá uma impressão de perda daquilo que considero o único atrativo de valor: minha individualidade. Não quero ser um número ou uma pasta em um arquivo que tem meia duzia de documentos. Ele não ama, não sente, não perdoa, nem se machuca. Quero ser simplesmente o Robson. Não o "Sr. Robson". Também não quero ser "o 3835". Quero ser eu mesmo. Meu numero de registro pouco importa.
Enfim, se você ver minha identidade por aí, diga-lhe que estou com saudades daquele tempo que brindávamos ao som do "Bom dia, Robson!". Diga-lhe que na frente do meu crachá está o meu nome, sem vergonha, mas com muito orgulho. Diga-lhe também que Susan Boyle mostrou-me esses dias que não preciso ter vergonha do lugar onde moro, das roupas que uso ou do meu cabelo, mas que posso fazer com simplicidade que meu nome seja sempre lembrado, não por aquilo que tenho, mas por aquilo que sou.
Na paz sem mascaras ... Assim como sou!