terça-feira, 19 de abril de 2011

Assembleia de Deus, 100 anos: caminhos e descaminhos para o pós-centenário (um estudo)

Boa noite leitores. Gostaria de deixar uma reflexão de "Alan Brizotti" que me chamou muita atenção!


No jargão do futebol, quando um time completa cem anos, comemora-se o chamado “centenário”. Contudo, o que as torcidas rivais mais gostam é quando o time em questão, em pleno ano do centenário, não consegue nenhum título. Esses torcedores rivais passam então a usar um neologismo: “cente-nada!” A Assembleia de Deus está numa encruzilhada histórica: sua escolha definirá sua sobrevivência: centenário ou “cente-nada”?


Os descaminhos estão cada vez mais perigosos:

Descaminhos são atalhos da fé. A ideia perigosa de que caminhos mais curtos são sinais das bênçãos de um facilitador divino.
Descaminhos são espécies de tendências do mal: opções pelas rotas da facilidade, que permitem o “abraço de urso” na antiética duvidosa do “jeitinho”.Descaminhos são opções dos que perderam o senso de que sem raízes profundas os frutos (se vierem) serão condenados à irrelevância.
Descaminhos são síndromes de Geazi: gente que, em nome das riquezas, engana e mente, esquecendo-se que Deus julga motivações do coração.

Quais são os principais descaminhos que a Assembleia de Deus deve evitar no perigoso pós-centenário?

I. A perda da identidade: o descaminho da demonização (Lc. 8. 30, 38, 39)
Uma coisa tem me preocupado sobremaneira como assembleiano: a Assembleia de Deus tem se transformado numa assembleia de deuses.
A enfermidade dos títulos, a paranoia das honras, tem assaltado corações. A ditadura da hereditariedade tem engessado alguns campos eclesiásticos, e a tendência é essa quimera crescer...
No texto de Lucas 8, há duas poderosas lições:

a) No versículo 30, Jesus pergunta o nome dos demônios que possuíam o Gadareno, contudo, não respondem com um nome, mas com uma função: legião, um destacamento do exército romano. Uma vocação militar. Um serviço.
Rubem Alves desenvolve uma ideia muito interessante: o diabo odeia o próprio nome. Na cultura judaica, o nome evoca as essências, os começos. Para o diabo, pensar em seu próprio nome é relembrar suas origens e consequente queda, portanto, ele odeia o nome. Por isso não responde com um nome, mas com uma função! Esconde-se atrás dos títulos. Na Bíblia, seu nome é sempre dito por terceiros, nunca por ele mesmo. Essa lição sinaliza um grave perigo: o de nos escondermos atrás de vocações. Se minha credencial valer mais do que minha identidade, abro um processo de demonização às vezes irreversível!
b) Nos versículos 38 e 39, o Gadareno, já liberto, implora a Jesus que o deixe segui-lo. Jesus recusa-se terminantemente. Jesus estava libertando-o completamente. É como se Jesus dissesse: “Não vou possuí-lo. Não vou trocar de lugar com os demônios. Vou libertá-lo para a intimidade dos seus”. A grande lição aqui é a que precisa ser redescoberta com urgência: não possuímos ninguém. O pastor não possui as ovelhas, ele as protege!

II. A tentação da mistura: o descaminho das contradições (Mc. 10. 17-23)

A Assembleia de Deus – aos cem anos – resolveu imitar o adolescente movimento neopentecostal. Estamos abraçando mediocridades: atos “proféticos”, quando deveríamos abraçar Atos dos apóstolos! Cantando mantrazinhos gospel de quinta categoria, quando temos em nossa história “os mais belos hinos e poesias” escritos na senda da “rude cruz”. Percebo uma Assembleia de Deus semelhante a um velho cansado encantado com o brinquedo tecnológico do neto.
O texto de Marcos 10, o “jovem rico", aponta para o perigoso descaminho da mistura: ele vai até Jesus com uma teologia pronta. Costumo brincar dizendo que o jovem rico era neopentecostal: religião demais, piedade de menos! “Bom Mestre”: a opção enganosa de seguir a Jesus pelos motivos errados: mestre ao invés de Senhor!
Esse jovem chegou até Jesus carregado de teologia pronta, e saiu de perto de Jesus com o peso de suas riquezas. A palavra aramaica para “riquezas” é Mamóm, que vem da mesma raiz da palavra amém! O dinheiro tem dito o “amém” na vida de muita gente nessa centenária igreja.

III. A doença do sucesso: o descaminho da falsa glória (Dn. 4. 29-34)

O sucesso é a droga mais consumida do século XXI. É o elixir dos delírios que faz brilhar os olhos dos pregadores adeptos da homilética do bombardeio. Sua composição básica é feita com as toxinas que inflam o ego. A Assembleia de Deus, que antes era a igreja do povo simples, está cada dia que passa, transformando-se numa igreja do sucesso, numa vitrine eclesiástica das celebridades instantâneas.
É a síndrome de Nabucodonosor, do texto de Daniel 4: a falsa glória. O excelso que desrespeita o efêmero. Quando a criação passa a ser adorada ao invés do Criador alimenta-se de doses monstruosas de falsa glória, entrando no caminho sem volta da overdose de glamour, caindo na tentação de viver num mundo sem Deus e numa igreja sem dono.
A Assembleia de Deus tem muito o que celebrar, mas tem muito mais a refletir. Afinal, os próximos cem anos, se o Senhor assim permitir, estão só começando. Como diz o slogan das comemorações: “pelos séculos dos séculos”.

Texto baseado na mensagem que preguei no simpósio de dirigentes da Assembleia de Deus, campo de Campinas.

Até mais...

Alan Brizotti

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"Se amássemos mais a glória de Deus, se nos importássemos mais com o bem eterno das almas dos homens, não nos recusaríamos a nos engajar em uma controvérsia necessária, quando a verdade do evangelho estivesse em jogo. A ordenança apostólica é clara. Devemos “manter a verdade em amor", não sendo nem desleais no nosso amor, nem sem amor na nossa verdade, mas mantendo os dois em equilíbrio (...) A atividade apropriada aos cristãos professos que discordam uns dos outros não é a de ignorar, nem de esconder, nem mesmo minimizar suas diferenças, mas discuti-las." John Stott

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