domingo, 20 de junho de 2010

Mortos não tem livre-arbitrio

C.H.SPURGEON


"se algum homem atribuir qualquer parte da salvação, mesmo a menor parte dela, ao livre-arbítrio do homem, ele nada sabe sobre a graça, e não conheceu a Jesus Cristo corretamente".

Martinho Lutero



Esta pode parecer uma opinião rude; mas aquele que em sua alma crê que o homem vai, por sua própria vontade, voltar-se para Deus, não pode ter sido ensinado por Deus, pois que este é um dos princípios que nos são ensinados quando Deus inicia sua obra em nós, que não temos nem o querer, nem o poder, mas que ele concede ambos; que ele é o "Alfa e o Ômega" da salvação dos homens.


" Contudo não quereis vir a mim para terdes vida"  Jo 5.40

Nossos quatro pontos, esta manhã, serão:

Primeiro

- que cada homem está morto, porque o texto diz: "E não quereis vir a mim para terdes vida".

Segundo

- que há vida em Jesus Cristo: "E não quereis vir a mim para terdes vida".

Terceiro

- que há vida em Cristo Jesus para todo aquele que a busca: "E não quereis vir a mim para terdes vida", implicando que todo aquele que vai terá vida.

Quarto

- o ponto principal do texto está em que nenhum homem por sua própria natureza jamais irá a Cristo, porque o texto diz: "E não quereis vir a mim para terdes vida".

Muito longe de afirmar que os homens por sua própria vontade, em algum momento, fariam tal coisa, ele categoricamente e claramente nega isto, e diz: "e NÃO QUEREIS vir a mim para terdes vida". Porque, amados, estou já quase pronto a exclamar: Têm os defensores do livre-arbítrio tão pouco conhecimento que ousam contrariar a inspiração? Não têm nenhum senso todos os que negam a doutrina da graça? Têm eles se afastado tanto de Deus, que forçam este texto para provar o livre-arbítrio; ainda que ele diga "e NÃO QUEREIS vir a mim para terdes vida"?



 Primeiro, então, nosso texto implica "QUE OS HOMENS POR NATUREZA ESTÃO MORTOS."

Ninguém precisa ir em busca de vida se já tem vida em si mesmo. O texto fala muito fortemente quando declara: "e não quereis vir a mim para terdes vida". Apesar de não dizê-lo com palavras, ele afirma, com efeito, que os homens precisam de uma vida além da que têm em si mesmos. Meus ouvintes, nós todos estamos mortos a não ser que tenhamos sido gerados para uma viva esperança.

Morte Legal (Jurídica)


Primeiro, em nós mesmos, em nossa natureza, estamos todos legalmente mortos:

"no dia em que dela comeres, certamente morrerás" (Gn. 2:17) disse Deus a Adão.

E embora ele não tenha morrido fisicamente naquele instante, ele morreu legalmente: isto quer dizer que a morte foi decretada contra ele.

No momento em que, no Old Bailey, o juiz veste a capa preta e pronuncia a sentença, o homem é considerado morto pela lei. Talvez possa se passar um mês antes de ele ser trazido ao cadafalso para sofrer a sentença da lei, no entanto, a lei já o considera um homem morto. É-lhe impossível fazer qualquer transação. ele não pode herdar, nem deixar em herança os seus bens; ele não é nada - é um homem morto. A nação de nenhum modo o considera como se estivesse vivo. Havendo uma eleição - não lhe é pedido o seu voto, porque ele é considerado legalmente morto. ele está trancado em sua cela de condenação e está morto.

Ah! E vocês incrédulos pecadores, que nunca tiveram vida em Cristo, que estão vivos nesta manhã, por uma suspensão temporária da sentença, não sabem que estão legalmente mortos? Que Deus os considera assim, que no dia que seu pai Adão comeu o fruto, e quando vocês próprios pecaram, Deus, o Eterno Juiz, colocou sobre Si a capa preta e os condenou? Vocês falam poderosamente de sua própria firmeza, e bondade, e moralidade: mas, onde estão elas?

As Escrituras dizem que vocês "já estão condenados" (Jo. 3:18). Não têm que esperar para serem condenados no dia do juízo final - ali será a execução da sentença - vocês "já estão condenados". No momento em que pecaram, seus nomes foram escritos no livro negro da justiça: todos foram então sentenciados, por Deus, à morte, exceto se alguém encontrar um substituto para si, por causa dos seus pecados, na pessoa de Cristo.

O que vocês pensariam se fossem à prisão de Old Bailey, e vissem o criminoso condenado sentado em sua cela, rindo e feliz? Vocês diriam: "O homem é um tolo, pois está condenado e está para ser executado: no entanto, quão contente ele está!". Ah, e quão tolo é o homem mundano que, enquanto a sentença está sendo registrada contra ele, vive em divertimento e alegria!

Vocês pensam que a sentença de Deus não tem efeito? Pensam que seu pecado, que está gravado com ponteiro de aço nas rochas para sempre, não tem horrores em si mesmo? Deus disse que vocês já estão condenados. Se pudessem tão somente sentir isto, o amargor se misturaria às suas doces taças de alegria; suas danças parariam. O riso se extinguiria com um suspiro, se vocês se lembrassem que já estão condenados. Todos nós deveríamos chorar se compreendêssemos em nossas almas que por natureza não temos vida aos olhos de Deus. Estamos verdadeiramente, positivamente, condenados; a morte está decretada contra nós, e somos considerados, agora, em nós mesmos, aos olhos de Deus, tão mortos quanto se já tivéssemos sido lançados no inferno: estamos condenados aqui pelo pecado. Ainda não sofremos a penalidade por ele, porém, ela está escrita contra nós, e estamos legalmente mortos, e não podemos encontrar vida, a menos que possamos achar vida legal na pessoa de Cristo, e isto logo.

Morte Espiritual

Mas, além de estarmos legalmente mortos, estamos também espiritualmente mortos. Isso porque a sentença não somente foi lavrada no livro, mas também no coração e entrou na consciência, operou na alma, no julgamento, na imaginação e em tudo: "... porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás", esta sentença não foi cumprida somente pelo decreto, mas também por algo que aconteceu em Adão.

Assim como num certo momento, quando este corpo morrer, o sangue parará, o pulso cessará e a respiração não virá mais aos pulmões, assim também no dia em que Adão comeu do fruto, sua alma morreu; sua imaginação perdeu seu poder de ascender às coisas celestiais e ver o céu, sua vontade perdeu para sempre seu poder de escolher aquilo que é bom, seu julgamento perdeu toda a sua habilidade de julgar entre o certo e o errado decidida e infalivelmente. Ainda que algo tenha sido retido na consciência, sua memória tornou-se corrompida, propensa a reter as coisas más, e a deixar as coisas virtuosas deslizarem para longe, todo o poder que tinha cessou quanto à sua vitalidade moral. A bondade era a vitalidade do seu poder - isso se foi. Virtude, santidade, integridade, estas eram a vida do homem, e quando se foram o homem tornou-se morto. E agora, todo homem, no que concerne às coisas espirituais, "está [espiritualmente] morto em ofensas e pecados" (Ef. 2:1). Também a alma não esta menos morta, em um homem carnal, que o corpo quando depositado no túmulo: ela está verdadeira e positivamente morta - não por metáfora, porque Paulo não fala por metáforas quando afirma: "E vos vivificou, estando vós mortos em ofensas e pecados".

Mas, meus ouvintes, novamente, eu gostaria de poder colocar este assunto em seus corações. Foi suficientemente ruim quando descrevi a morte como tendo sido decretada: porém, agora eu falo dela, como tendo de fato acontecido nos seus corações.

Vocês não são o que eram antes: não são o que eram em Adão, nem o que foram gerados. O homem foi criado puro e santo. Vocês não são as criaturas perfeitas das quais alguns se gloriam, todos são totalmente caídos, todos se desviaram do caminho, tomando-se corruptos e sujos. Oh, não ouçam o canto da sereia daqueles que falam da dignidade moral e do elevado estado de vocês no tocante à salvação. Vocês não são perfeitos: aquela importante palavra, "ruína", está escrita em seus corações, e a morte está estampada em seus espíritos.

Não imagine, oh homem moral, que poderá ficar de pé diante de Deus em sua moralidade, pois você não é mais do que uma carcaça embalsamada em legalismo, um defunto enfeitado em finas roupas, porém não obstante corrompido aos olhos de Deus. E não pense, oh você possuidor de uma religião natural, que poderá por sua própria força e poder, se fazer aceitável a Deus. Porque, homem, você está morto! E você pode vestir o morto tão gloriosamente quanto quiser, porém isso ainda seria um enorme esforço em vão.

Lá jaz a rainha Cleópatra - coloque a coroa em sua cabeça, cubra-a em vestes reais, deixe-a sentar com pompa: mas, que calafrio você sente quando passa por ela. Hoje ela está bela, mesmo em sua morte - mas quão terrível é ficar junto a um morto, mesmo uma rainha morta, celebrada por sua majestosa beleza! Assim, você pode ser magnífico em sua beleza, sua cortesia, e amabilidade, e graciosidade! Você coloca a coroa da honestidade sobre a sua cabeça, e coloca sobre você todas as vestes de honra, mas a não ser que Deus o tenha vivificado, oh homem, a não ser que o Espírito tenha tratado com a sua alma, você é tão detestável aos olhos de Deus, quanto o cadáver frio é repugnante a você.

Você não escolheria viver com um morto assentado à sua mesa, nem Deus tem prazer em que você esteja diante de seus olhos. ele fica irado com você todos os dias, porque você está em pecado - você está em morte. Oh! Creia nisto, coloque isto em sua alma! Aproprie-se disto, porque é bem verdade que você está morto, tanto espiritualmente quanto legalmente.

Morte Eterna

O terceiro tipo de morte é a consumação dos outros dois tipos. É a morte eterna. É a execução da sentença legal e a consumação da morte espiritual. A morte eterna é a morte da alma; ela acontece após o corpo ter morrido, após a alma ter saído do corpo. Se a morte legal é terrível, ela o é devido às suas conseqüências; e se a morte espiritual é horrível, ela o é devido ao que vem depois dela. As duas mortes das quais falamos são as raízes, e a morte que virá é a sua flor!

Oh, se eu tivesse palavras para descrever a você nesta manhã o que é a morte eterna: A alma compareceu ante seu Criador; o livro foi aberto; a sentença foi declarada: "Apartai-vos malditos" (Mt. 25:41), e ela sacudiu o universo, e fez com que as próprias estrelas se escurecerem com a desaprovação do Criador; a alma se foi às profundezas onde habitará com as outras em morte eterna.

Oh! Quão horrível é sua situação agora. Seu leito é um leito de chamas; as visões que tem são visões assassinas que aterrorizam seu espírito; os sons que ouve são gritos, e choros, e lamentos, e gemidos; tudo que seu corpo conhece é o infligir de dores lancinantes! Tem a indescritível aflição do sofrimento que não diminui. A alma olha para cima. A esperança está extinta - se foi. Olha para baixo, em medo e pavor: o remorso toma conta dela. Olha à sua direita, e as impenetráveis paredes da morte a mantêm dentro dos limites da tortura. Olha à sua esquerda, e há uma barreira de fogo ardente que impede o crescimento de qualquer especulação de fuga que seja sonhada. Olha para seu interior e busca por consolação ali, mas um verme destruidor já entrou em sua alma. Ela olha em volta, não tem amigos que a ajudem, nem consoladores, mas atormentadores em abundância. Não tem nenhuma esperança de libertação; já ouviu a eterna chave do destino fechando a terrível prisão, e viu Deus tomar a chave e jogá-la nas profundezas da eternidade, para nunca mais ser encontrada. Sem esperança, desconhece o escape, não conjectura libertação; suspira por um fim, mas a morte é por demais um adversário para estar ali; deseja ardentemente que a não existência a possa tragar, mas a morte eterna é pior que o aniquilamento. Anseia pelo extermínio como o trabalhador pelo dia de descanso; deseja profundamente que possa ser engolida pelo nada, assim como o escravo da galé deseja sua liberdade que nunca chega. Está eternamente morta.

Mesmo quando a eternidade já tiver dado incontáveis voltas em seus ciclos eternos a alma ainda continuará morta. Para todo o sempre não achará fim; a eternidade não pode ser descrita a não ser em termos da própria eternidade. Ainda assim, a alma vê escrito sobre sua cabeça: "tu és maldita para sempre". Ela ouve gritos que serão perpétuos; vê as chamas que não podem ser apagadas; conhece as dores que não terão alivio; ouve uma sentença que ruge não como um trovão da terra que logo cessa, mas, que prossegue, e prossegue, e prossegue, estremecendo em ecos pela eternidade - fazendo milhares de anos tremerem outra vez com o terrível estrondo do seu aterrorizante som: "Apartai-vos! Apartai-vos! Apartai-vos malditos!" Esta é a morte eterna.

Segundo, "EM CRISTO JESUS HÁ VIDA,"

Porque ele diz: "e não quereis vir a mim para terdes vida". Não há vida em Deus o Pai para o pecador; não há vida em Deus o Espírito para o pecador separado de Jesus. A vida do pecador está em Cristo. Se vocês tomarem o Pai à parte do Filho, apesar dele amar Seus eleitos e decretar que eles viverão, ainda assim a vida está somente em seu Filho. Se tomarem Deus o Espírito à parte de Jesus Cristo, apesar de ser o Espírito quem nos dá vida espiritual, ainda assim a vida está em Cristo, a vida está no Filho. Não nos atrevemos e não podemos requerer vida espiritual, em primeiro lugar, nem de Deus o Pai, ou de Deus o Espírito Santo. A primeira coisa a que somos levados quando Deus nos tira do Egito é a comer a Páscoa - a primeiríssima coisa. Os primeiros meios pelos quais recebemos vida consistem em nos alimentarmos da carne e do sangue do Filho de Deus; vivendo nele, confiando nele, crendo em Sua graça e poder.

 


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"Se amássemos mais a glória de Deus, se nos importássemos mais com o bem eterno das almas dos homens, não nos recusaríamos a nos engajar em uma controvérsia necessária, quando a verdade do evangelho estivesse em jogo. A ordenança apostólica é clara. Devemos “manter a verdade em amor", não sendo nem desleais no nosso amor, nem sem amor na nossa verdade, mas mantendo os dois em equilíbrio (...) A atividade apropriada aos cristãos professos que discordam uns dos outros não é a de ignorar, nem de esconder, nem mesmo minimizar suas diferenças, mas discuti-las." John Stott

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